Teste rápido ajuda a combater fraude que deixa caminhão mais poluente
07-06-2017
Teste rápido ajuda a combater fraude que deixa caminhão mais poluente
Matéria do Jornal Nacional.
Um teste simples e rápido é a nova arma da Polícia Rodoviária de São Paulo para combater a fraude do Arla, um composto químico que deve ser usado para reduzir a poluição de motores a diesel. Só que tem motorista comprando o Arla falso para economizar até R$ 20 por dia.
Caminhão antigo ainda solta fumaça. Os mais modernos, fabricados a partir de 2012, deveriam ser menos poluentes. Para garantir isso, os motores de última geração precisam de um líquido transparente, o Arla 32, de uso obrigatório pelos motoristas.
O sistema funciona assim: a fumaça da queima do diesel sai do motor. Uma mangueirinha injeta o Arla 32 antes da entrada do catalisador. O líquido transforma a fumaça tóxica em vapor d´água. Mas se o Arla é falso, a fumaça passa direto e sai do escapamento para o meio ambiente.
E esse é um problema encontrado pela Polícia Rodoviária Federal. Já tem gente adulterando o Arla. E para economizar no máximo R$ 20 por dia, motoristas acabam comprando o falsificado.
O produto é vendido nos postos, em galão fechado de 20 litros ou por litro. Com a indicação da Polícia Rodoviária Federal, o produtor William Santos foi a dois postos da Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais.
Produtor: Arla? Quanto é que tá o galão?
Vendedor: O galão?
Produtor: Isso.
Vendedor: 35,80.
Produtor: 35,80? Arruma um galãozinho pra mim.
Em outro posto, basta levar uma garrafa plástica qualquer.
Produtor: Quanto que dá?
Vendedor:. R$ 4,29.
Produtor: O galão fechado tá quanto?
Vendedor: R$ 35,80.
O Arla veio de uma mangueira, ligada a uma bomba no chão. A constatação da fraude era cara e burocrática. Se a polícia suspeitasse que o veículo estivesse com o produto adulterado, tinha que recolher amostra do produto, mandar para um laboratório, pagar R$ 850 e esperar 12 dias pelo resultado. Enquanto isso, o caminhão continuava acelerando pelo país e espalhando mais poluição.
Dois policiais rodoviários, um deles químico, desenvolveram um reagente que em cinco segundos constata a fraude. O teste custa apenas R$ 0,02. Uma gota, em cem mililitros de Arla, tem que deixar o líquido azul.
A garrafa plástica e o galão comprados nos postos foram examinados. Os agentes testaram primeiro o da garrafa plástica. “Com a cor roxa. Aparentemente está irregular”, diz um policial.
Agora o teste do Arla 32 do galão lacrado. “Esse está com a cor esperada dentro das normas que o Ibama estabelece. Passaria numa fiscalização sem problema algum”, diz o policial.
Numa fiscalização, na beira da estrada, de três veículos vistoriados, dois usavam o Arla irregular. “Abasteci agora”, diz Adilson Nascimento, motorista de ônibus.
JN: O senhor não suspeitou que era um produto ruim?
Motorista: Em momento algum
JN: Nem pelo preço?
Motorista: Não.
O reagente que detecta o Arla falsificado já é usado nas rodovias federais que passam por São Paulo. Em três meses, deve estar em todo o país. A fiscalização poderá evitar a emissão em larga escala do gás NOx, pelos escapamentos, um poluente que causa o efeito estufa e que atinge também o ser humano.
“Causa doença, causa morte, causa câncer e causa malformações nas crianças,” afirma o médico toxicologista Anthony Wong.