Prioridade a estradas e falta de ferrovias e hidrovias encarecem frete no Brasil

07-06-2017
Prioridade a estradas e falta de ferrovias e hidrovias encarecem frete no Brasil O território brasileiro é entrecortado por quase 2 milhões de quilômetros de rodovias, por meio das quais chega-se a quase todos os locais povoados do país. O problema é a dependência desse tipo de modal de transporte, além do alto custo do frete e o desgaste das rodovias com o vaivém dos caminhões abarrotados de mercadorias. Desde a transferência de Brasília para o Planalto Central, pouco ou quase nada se investiu em outros modais. O vazio ferroviário e hidroviário no país se contrapõe à imensidão do território, inclusive em áreas estratégicas nas chamadas fronteiras agrícolas, como a região Centro-Oeste. Uma realidade que coloca o Brasil em desvantagem frente aos mercados internacionais. A malha ferroviária brasileira é de 28.522 km — 70 vezes menor que a rodoviária —, a mesma quilometragem que existia de trilhos no fim do século 19. A análise da participação relativa para cada modal demonstra o desequilíbrio da matriz brasileira de transportes de cargas, quando comparada à de outros países de grandes dimensões territoriais. No Brasil, há predomínio de rodovias — 58% do translado de mercadorias é feito por estradas; 25%, por trilhos; e 17%, por rios. Nos EUA, a proporção é de 32% de rodovias, 43% de ferrovias e 11% de hidrovias. Na Rússia, a participação das rodovias cai para 8% e a das ferrovias atinge a marca de 81%. Os dados são do Plano Nacional de Logística e Transporte, feito pelo governo brasileiro. A extensa malha rodoviária do país não é encarada como um problema por especialistas. O que preocupa é a concentração do modal cujo resultado é um avanço preocupante do custo Brasil. “O prejuízo em competitividade é enorme. O custo de operação das ferrovias é menor do que o das rodovias, ainda mais no caso brasileiro, em que muitas não estão em bom estado de conservaçãoâ€, analisa Julio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon). As poucas tentativas existentes de integração de modais têm dificuldades de sair do papel. A execução das obras leva anos e, quando prontas, há entraves para implementar o modal. Um exemplo é Anápolis (GO). Importantes projetos, como a Ferrovia Norte-Sul e o Aeroporto de Cargas de Anápolis, não operam na totalidade. A ferrovia chegou a ser inaugurada em 2014, mas apenas pequenas operações foram feitas. Segundo a estatal Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, em 2015, as viagens realizadas foram o transporte de 18 locomotivas, com 26 mil toneladas de farelo de soja, de Anápolis ao Porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão. Em 2016, apenas uma locomotiva operou. O Aeroporto de Cargas nem sequer consegue funcionar e já consumiu R$ 200 milhões do governo de Goiás. Ainda há dúvidas se vai conseguir as autorizações e se haverá demanda, pelo alto custo do frete. O estado pretende transformar o terminal em uma parceria público-privada. “Ao termos avião, trem e rodovia, tornaremos as mercadorias do centro do país mais competitivas e vamos atrair mais indústrias, com maior valor agregado para a regiãoâ€, defende Wilson de Oliveira, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás.