Está longe o consenso sobre a Lei 12.619, mas há quem entenda que as paradas obrigatórias são irreversíveis e não falte até empreendedor para apostar nelas

Luciano Alves Pereira

Passado esse tempo, as discussões prosseguem quanto à partição dos tempos e movimentos dos motoristas de caminhão. A Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Fetcemg), de Belo Horizonte, reconhece que os contrários trabalham para “revogar” o dito ordenamento jurídico. A entidade admite que “o recente relatório da comissão criada no Congresso Nacional aponta para a descaracterização da Lei 12.619”. Permanece, no entanto, o consenso de que o caminhoneiro , seja empregado ou autônomo, requer não apenas certas horas de inatividade, bem como áreas planejadas e exclusivas de paradas obrigatórias para pouso (POP), que pelo mundo afora se chamam truckstops.

José Rafael Soares Filho concorda com a obrigatoriedade. Conhecido como Zezinho, ele é dono-fundador do Posto Primavera, importante galonagem do km 480 da BR-262 (originalmente BR-34), próximo ao trevinho de acesso a Bom Despacho, no Centro-Oeste de Minas. Ele tem ampla experiência no TRC porque atua nos ‘dois balcões’. Abriu seu posto em 1983, com bandeira Esso (hoje Shell) e por todo o tempo tocou paralelo sua frota de carretas, que não faz muito, reunia 35 unidades. Zezinho acha que as POPs estão no horizonte do TRC como exigência legal irreversível.

Zezinho e o filho Alisson

E não se trata de mero ponto de vista, mas convicção. Ele está apostando alto nesse futuro próximo ao investir cerca de R$ 1,5 milhão na construção de um dos primeiros truckstops das malhas federal e estadual de Minas. Pensado e feito para esse objetivo. Sua, digamos, inspiração veio-lhe trazida pelos motoristas próprios que rodam no Norte e Nordeste e têm de pagar R$ 30 por pernoite de bom acolhimento. “Não pretendo cobrar tão caro na minha ‘parada legal’, mas não será de graça”, diz Zezinho. Para tanto, descartou os tais “puxadinhos no pátio do posto”. Um projeto integrado está sendo executado. Ele mede 30 mil m², com terreno estabilizado, escorado por muro de arrimo, totalmente cercado, iluminado, além de controlado por portaria e vigilância.

Conforme adiantou, inicialmente aprontará 15 mil m², no seu entender, suficientes para o estacionamento de 150 conjuntos, dispostos sobre piso pavimentado por asfalto e brita. Como conforto desse projeto, oferecerá dez banheiros, com chuveiro quente, sala de lazer e vigilância 24 horas.

As refeições ficarão no restaurante do próprio posto, contíguo ao POP, além de farmácia, borracheiro, lavador, loja de calçados e até hotel. A iniciativa do Posto Primavera tem claro potencial de integrar o planejamento operacional das frotas passantes. Sua localização na BR-262 encaixa-se como luva nas rotas oriundas de Uberlândia (400 km), Uberaba (315 km), Belo Horizonte/Contagem (140 km), Arcos/MG (100 km), entre outras cidades-polo, origens e destinos de cargas diversas.

Quando o seu POP estiver com início de operação agendado, Zezinho pretende convidar os transportadores dessas cidades para conhecerem o seu empreendimento. Segundo observou, eles poderão contar com a oferta farta de vagas seguras para carretas e caminhões, facilitando o desenho das rotas e suas paradas legais, em cumprimento à Lei 12.619 ou sua eventual sucessora.

A partir de novembro, Bom Despacho (BR-262) contará com espaço para pernoite de 150 carretas e/ou caminhões, em projeto feito para ser truckstop

 

 

Fonte: Revista Carga Pesada