Crise impacta transporte rodoviário de cargas
A euforia e os planos de expansão ficaram para trás entre os transportadores de Rondonópolis, conhecida como “Capital Nacional do Bitrem” por conta do grande fluxo de caminhões articulados em circulação nas rodovias federais que cortam a cidade. Os transportadores passaram a vivenciar uma nova realidade: lucros menores, redução de frota e aumento das dispensas de funcionários. A Associação dos Transportadores de Cargas de Mato Grosso (ATC) avalia que o setor de transporte rodoviário de cargas está passando por uma das maiores crises dos últimos 20 anos.
As dificuldades se intensificaram desde o fim de 2014, quando houve um aumento significativo do número de caminhões no mercado. A expectativa de safra recorde e a baixa taxa de juros disponibilizada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) incentivaram muita gente a renovar ou aumentar as suas frotas. Naquele momento, muitas empresas de outros setores e até profissionais liberais se interessaram e acabaram ingressando no transporte rodoviário de cargas. Em consequência, junto com outros imprevistos nas lavouras, as tarifas de fretes começaram a cair, gerando prejuízos.
A realidade no setor de transporte rodoviário de cargas atualmente é preocupante. Segundo informações oriundas do próprio segmento, são inúmeras empresas pedindo recuperação judicial e outras abrindo falência. Também é expressivo o número de caminhoneiros autônomos que está abandonando a profissão, por não conseguir pagar as parcelas de financiamentos de seus caminhões, sendo obrigado a entregar os mesmos para o banco para quitar as dívidas.
O diretor-executivo da ATC, Miguel Mendes, atesta que o setor de transporte rodoviário de cargas é o maior gerador de renda, impostos e de empregos diretos e indiretos de Rondonópolis e região, com estimativa de mais de 20 mil trabalhadores atuando em prol do mesmo de forma direta ou indireta. Quanto aos reflexos desta crise, aponta o aumento do número de desempregados e o enfraquecimento do comércio local, com o fechamento de muitas empresas que dependem do setor.
Conforme Miguel Mendes, a crise no segmento não é fruto de mau planejamento por parte do setor. Ele argumenta que houve uma política errada da presidente Dilma Rousseff em autorizar, há dois anos, o BNDES a financiar, com taxa de juros subsidiadas, a aquisição de caminhões e carretas, com o intuito de fomentar a fabricação e comercialização destes bens. Com isso, reforça que muitos empresários de outros setores acabaram se aventurando no segmento achando que poderiam enriquecer da noite para o dia.
“Também muitos caminhoneiros empregados acabaram pedindo demissão das empresas onde trabalhavam iludidos que poderiam se tornar caminhoneiros autônomos com remuneração mensal bem maior das que recebiam como empregados: ledo engano, muitos hoje se encontram em situação muito difícil e não possuem dinheiro nem ao menos para custear uma refeição”, afirma o diretor.
Para piorar, Miguel analisa que as expectativas para o segmento não são boas, pois, com a atual quebra da safra de grãos, junto com a crise político-econômica vivenciada no Brasil, a tendência é minorar a demanda por transporte rodoviário de cargas pelo menos para os próximos 02 anos, o que provocará uma grande redução desta que é uma das mais importantes atividades econômicas do País